Menotti Del Picchia

O Príncipe dos Poetas

Casa Menotti

Criada em março de 1987 em  Itapira através do Decreto nº 24/87

Criada em março de 1987 através do Decreto nº 24/87 pelo prefeito David Moro Filho, a "Casa de Menotti Del Picchia" guarda objetos, livros, roupas, fotos, pinturas e esculturas do poeta. Com cinco anos de idade sua família mudou-se para Itapira, em cuja vida cabocla encontrou a inspiração para o seu famoso poema "Juca Mulato".

 Itapira com sua paisagem rural, impulsionou a decolagem literária de Menotti. E foi na fazenda Santa Catarina que ele escreveu Juca Mulato.

Discurso do poeta Paulo Bonfim, ao se despedir de Menotti Del Picchia, na Academia Paulista de Letras, em 23 de agosto de 1988.
Parte o cavaleiro andante da modernidade, legando-nos o exemplo de sua carismática vocação de viver. O gênio de Menotti fulgura em múltiplas facetas que poderiam ter sido múltiplos heterônimos. Em tudo colocou a marca de sua paixão. Generoso consigo e com os outros, aos moços estendeu mãos experientes abrindo portas e apontando caminhos. Foi donatário de horizontes e sua inteligência um caleidoscópio que encantava pela incansável renovação das imagens. Entre todos os personagens que criou, o mais fascinante foi ele próprio! Poucos personificam tão bem o que o Brasil tem de mais generoso e inquieto. A vida de Menotti foi um ritual de paixão. A ele não podemos dizer -- descanse em paz, e sim -- prossiga sempre. Sua morte transforma-se em imensa aventura cósmica. A eternidade ama aqueles que amaram muito e Menotti, de coração aceso, penetra o reino do amor absoluto.

Cronologia

 A Casa de Menotti Del Picchia foi criada em março de 1987, através do Decreto 24/87, pelo prefeito David Moro Fº. Esse museu guarda o acervo
literário, artístico e pessoal do renomado poeta brasileiro.

Jornalista, poeta, romancista, contista, ensaísta, teatrólogo, historiador e pioneiro da indústria cinematográfica brasileira, Menotti Del Picchia é uma
das maiores expressões da vida cultural paulista, com destacada atuação em todas as áreas por onde trafegou, entre as quais a Semana de Arte
Moderna em 1922, da qual foi um dos líderes.

CRONOLOGIA:

Vida e Obra (por Jácomo Mandatto-Diretor da Casa de Menotti Del Picchia)

1892- Nasce Paulo Menotti Del Picchia, a 20 de março, numa casa da Ladeira São João, em São Paulo. Filho de Luís Del Picchia e Corina Del Corso Del Picchia, ambos toscanos, região da Itália central.Teve cinco irmãos: Carolina, José, Liberal, Luís e Raineri.

1897 - Mudança para Itapira, interior do Estado.

1900 - É matriculado no Grupo Escolar "Dr. Júlio Mesquita", em Itapira.

1903 - Conhece o escritor Coelho Neto, que visitou Itapira na Festa das Árvores. Termina o curso primário.

1904 - Inicia o curso ginasial no "Culto à Ciência", em Campinas. A 25 de dezembro publica seu primeiro trabalho, a crônica "Natal", no jornal Cidade de Itapira (primeira fase).

1906 - Transfere-se para o Ginásio Diocesano "São José", de Pouso Alegre (MG).

1907 - Publica seus primeiros poemas em O Estudo, folha literária do Ginásio de Pouso Alegre.

1908 - Em julho, funda e dirige o jornalzinho O Mandu, órgão dos alunos externos do Ginásio São José, de Pouso Alegre, do qual circularam poucos números.

1909 - Solenidade de formatura em Ciências e Letras, em Pouso Alegre, a 25 de janeiro. Matricula-se na Faculdade de Direito de São Paulo.
Em fins de abril publica no jornal Cidade de Itapira (segunda fase) uma "Croniqueta Paulistana", a primeira que escreve em São Paulo, relatando a sua entrada para a Faculdade do Largo São Francisco. Mantem-se em São Paulo com um emprego que lhe arranjou o bispo Dom Nery, no Seminário Episcopal (hoje Museu de Arte), onde faz a escrita da casa.

1910 - Conhece, na Faculdade, durante uma conferência, o poeta Olavo Bilac. A 10 de julho, com 49 anos, falece sua mãe, em Itapira.

1912 - Casa-se a 20 de março, dia de seu vigésimo aniversário, com a fazendeira itapirense Francisca da Cunha Rocha Sales, conhecida como Pitutica, filha de José Gomes da Cunha Sales e Francisca Avelina da Cunha Rocha Sales. A 15 de dezembro nasce o primeiro filho do casal: Ulpiano.

1913 - Publica seu primeiro livro: Poemas do Vício e da Virtude. Conclui o curso de Direito, sendo o segundo aluno da turma.

1914 - Nasce, a 4 de janeiro, o segundo filho: Hélio Celso. Passa a advogar em Itapira e região.

1915 - A 14 de março nasce a filha: Wanda Elza. Funda em Itapira, a 2 de julho, o jornal O Grito. No dia 14 de julho são batizados de uma só vez os três filhos de Menotti e Francisca.

1916 - A partir do nº 28, de 7 de janeiro, o jornal O Grito tem seu nome mudado para Tribuna Itapirense. A 4 de abril nasce outra filha: Maria Astyris.

1917 - Publica os poemas Moisés e Juca Mulato, este editado em Itapira, numa edição de 500 exemplares.

1918 - Está escrevendo o poema Angústia de D. João e o romance Laís. Nasce mais uma filha: Myriam Semíramis, a 1º de março. Recebe convite para trabalhar no Correio Paulistano, em são Paulo. Muda-se, sozinho, para a Capital. Não consegue o lugar que lhe fora prometido no jornal. É convidado para redatoriar A Tribuna, de Santos. Nessa cidade, convive com Ribeiro Couto, Afonso Schmidt, Galeão Coutinho, Vicente de Carvalho, Martins Fontes, Valdomiro Silveira, Paulo Gonçalves e Ibrahim Nobre.

1919 - Aparece a segunda edição de ca Mulato, que reproduz artigo de Júlio Dantas, publicado em Portugal. Nesta edição Menotti anuncia seis livros em preparo: os romances O Paradoxo, A Professora e Laís, e as peças Suprema Conquista, Covarde e O Incubo. Conhece Oswald de andrade e Mário de Andrade. Descobre, com Oswald, o escultor Vitor Brecheret.

1920 - Retorna a São Paulo depois de permanecer por dois anos em Santos. Diretor de redação do jornal A Gazeta. Torna-se redator do Correio Paulistano, assinando artigos com o seu nome e com os pseudônimos Hélios e Aristófanes.
Com seu irmão José, monta uma empresa cinematográfica, a Independência Filme, e produzem os primeiros filmes falados no Brasil: Alvorada de Glória, Acabaram-se os Otários e O Campeão de Futebol.Funda, com Oswald de Andrade, a revista literária Papel e Tinta.
Publica seu primeiro romance: Flama e Argila, provavelmente o anunciado com o título O Paradoxo. (Em 1927 seria lançada a segunda edição de Flama e Argila com o título mudado para A Tragédia de Zilda. Posteriormente, o romance seria reeditado com seu nome primitivo.) Instala uma fábrica de
relógio para torres de igrejas. Publica Máscaras.

1921 - No dia 9 de janeiro é homenageado com um banquete no restaurante Trianon, pela publicação de Máscaras, sendo saudado, entre outros, por Oswald de andrade. Recebe sua máscara em bronze, obra de Brecheret. Mário de Andrade está presente. Era o prenúncio do Modernismo, ainda chamado de Futurismo. Publica os romances Laís e A Suprema Façanha (primeiro título de Dente de Ouro), além de O Pão de Moloch, crônicas. Sai a terceira edição de Juca Mulato. Sua família já reside em São Paulo. É encenada no Teatro Municipal de São Paulo a sua peça Suprema Conquista,pela
Companhia Dramática Nacional. É o porta-voz do presidente do Estado, Washington Luís. Conhece Rodrigues de Abreu e Plínio Salgado.

1922 - A 1º de janeiro nasce a filha Sulamita Célia. Em fevereiro é um dos líderes da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo. A segunda noitada, a 15 desse mês, é comandada por Menotti, que também pronuncia uma conferência. Publica o poema A Angústia de
D. João, a novela A Mulher que Pecou e o romance O Homem e a Morte. Sai a segunda edição de Máscaras. Conhece Joaquim Inojosa, difusor do Modernismo em Pernambuco. Conhece Tarsila do Amaral, que chegara de Paris em junho desse ano, e é formado o "Grupo dos Cinco", com Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Anita Malfati e Tarsila.

1923 - É publicado o livro São Paulo e seus homens de letras - Menotti Del Picchia e sua obra, de Moacir Chagas, com ataques a Menotti. Publica o livro de crônicas O Narizde Cleópatra e reedita o romance A Suprema Façanha, com o título mudado para Dente de Ouro.

1924 - Publica O Crime Daquela Noite, contos.

1925 - Publica Chuva de Pedra, poesia.

1926 - É eleito deputado estadual para substituir Luís Pereira de Campos Vergueiro, que passou para o Senado, sendo empossado a 12 de
julho.Sai a quarta edição de Laís.

1927 - É lançada a terceira edição de Moisés. Publica: Poemas de Amor, A Tragédia de Zilda (nome anterior de Flama e Argila), O Curupira e o Carão (de parceria com Cassiano Ricardo e Plínio Salgado), e Por amor ao Brasil. Nasce, a 5 de novembro, seu sétimo e último filho: Mário Fúlvio.

1928 - É reeleito deputado estadual, a 28 de fevereiro. Publica: Amores de Dulcinéia, República dos Estados Unidos do Brasil, O Tesouro de Cavendish (de parceria com Alfredo Ellis Jr.) e O Momento Literário Brasileiro.

1929 - É eleito para a Academia Paulista de Letras, a primeiro de maio, sendo empossado na Cadeira nº 40 a 31 de julho. Publica o Manifesto do Verde- Amarelismo, a 17 de maio, no Correio Paulistano, com Plínio salgado e Cassiano Ricardo.

1930 - Perde seu mandato de deputado. Publica o romance A República 3000 que, em 1933, teria sua segunda edição com o título mudado para A Filha do Inca.

1931 - Publica: A Crise da Democracia.

1932 - Secretário do governador Pedro de Toledo. Participa da revolução Constitucionalista. Publica o ensaio A Revolução Paulista e o romance A Tormenta. Trabalha nos jornais Diário de São Paulo e Diário da Noite a convite de Assis Chateaubriand. Dirige a revista A Cigarra. Publica as revistas São Paulo e Nossa Revista. Seu pai morre em Itapira, a 22 de dezembro.

1933 - É preso com Assis Chateaubriand pela polícia política de Vargas. Publica Jesus, A Filha do Inca, O Despertar de São Paulo, Poesias, Pelo Divórcio e Viagens de João Peralta e Pé-de-Moleque no País das Formigas.

1935 - É encenado o poema sacro Jesus, no Teatro Municipal de São Paulo, a 18 de abril, em versão italiana de Ferruccio Rubbiani. Teve outras apresentações posteriores. Publica: Soluções Nacionais.

1936 - Publica: Kalum, o Mistério do Sertão.

1937 - Funda o movimento Bandeira, com Cassiano Ricardo e Cândido Mota Filho, com qem dirige o jornal Anhangüera, o órgão desse movimento. A revista Novela, de Buenos Aires, publica o romance Dente de Ouro (Diente de Oro). Máscaras atinge 16 edições. Publica: Ensaio de Exposição do Pensamento Bandeirante.

1938 - Publica: Cumunká.

1940 - Publica o romance Salomé às suas custas. Candidata-se à vaga de Luís Guimarães Fº na Academia Brasileira de Letras, mas retira-se do pleito em favor do poeta Manuel Bandeira.

1942 - Em versão castelhana de Alberto Linhares é publicado na argentina o romance Salomé. A Editora A Noite publica a segunda edição brasileira de salomé. Recebe o Grande Prêmio da Academia Brasileirade Letras com Salomé. Diretor do jornal A Noite, de São Paulo.

1943 - Concorre à vaga de Xavier Marques na Academia Brasileira de Letras, sendo eleito a primeiro de abril. Toma posse da cadeira nº 28 a 20 de dezembro, sendo saudado por Cassiano Ricardo.

1946 - A Editora A Noite inicia a publicação de suas Obras Completas.

1947 - Em julho,participa, como delegado brasileiro, do Congresso de Escritores e Livreiros da América Latina, em Buenos Aires.

1949 - Viagem à Europa.

1950 - Ingressa no Partido Trabalhista Brasileiro. Elege-se deputado federal por São Paulo.

1951 - É dado o nome de Juca Mulato a um Parque de Itapira, local onde escrevera partes do seu célebre poema.

1954 - É reeleito deputado federal.

1955 - Sua peça A Fronteira é encenada no Rio de janeiro, por Eva Todor e sua companhia.

1956 - 1958- A Livraria Martins Editora publica as suas Obras Completas, em 13 volumes.

1958 - Primeiro Suplente de Deputado Federal.

1959 - Edição Especial de Juca Mulato publicada pela revista Leitura, com capa de Portinari. É comemorado o seu jubileu literário com grandes omenagens no Rio de Janeiro e São Paulo. Recebe o título de Cidadão carioca e o de CIdadão Jundiaiense. Publica: Sob o Signo da Polimnia.

1960 - Assume o cargo de deputado federal com a morte de Coutinho Cavalcanti.

1961 - Viagem aos Estados Unidos.

1962 - Inauguração do seu busto em Itapira, a primeiro de abril, obra de Luís Morrone. Recebe o título de Cidadão Itapirense. Concorre às eleições deste ano mas não se reelege, encerrando sua carreira política.

1966 - Realiza-se em Itapira a I semana Juca Mulato criada por Jácomo Mandatto.

1967 - É comemorado em todo o País o cinqüentenario do poema Juca Mulato. Morre sua esposa Pitutica. Cidadão Emérito de São Paulo.

1968 - Casa-se com Antonieta Rudge Miller. Publica: O Deus sem Rosto. É eleito Intelectual do Ano.

1969 - recebe a 20 de março, no auditório da Folha de São Paulo, o troféu Juca Pato.

1970 - Publica a primeira etapa de A Longa Viagem, memórias. É homenageado pela Câmara Municipal de São Paulo.

1972 - Publica a segunda etapa de A Longa Viagem.

1974 - É publicada a Seleta em Prosa e verso, organizada por Paulo Ronái. A 13 de julho, morre Antonieta Rudge Miller, sua segunda esposa.

1978 - A 20 de março é inaugurada a Praça Juca Mulato, no Ibirapuera, em São Paulo. Publica: Entardecer, coletânea em prosa e verso.

1979 - Recebe o Prêmio Brasília, pelo conjunto de sua obra.

1982 - Recebe o troféu Francisco Matarazzo Sobrinho, a 23 de março. A Câmara de Pouso Alegre concede ao escritor o título de Cidadão Pouso-alegrense, em agosto. É eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros.

1983 - É inaugurada em Itapira a Praça Poeta Menotti Del Picchia.

1984 - A Paulistur concede ao poeta diploma de honra e a medalha Cidade de São Paulo. Recebe o Prêmio Moinho santista, de Poesia.

1987 - É inaugurada em Itapira, a 29 de março, a Casa de Menotti Del Picchia, que guarda o acervo do escritor. Está localizada no Parque Juca Mulato.

1988 - Falece em são Paulo, na madrugada de 23 de agosto, aos 96 anos. Seu corpo foi velado na Academia Paulistade Letras e sepultado no emitério São Paulo. 

Opiniões de grandes Autores

Opiniões sobre Menotti Del Picchia e sua presença no movimento modernista "Você sabe que gosto de todos os seus livros, poemas, romances, escritos, e gosto muito e fundo e gosto sempre? do juca Mulato, de Colombina, Pierrot e Arlequim, de Salomé... do saci! gosto até de seu nome que é em si fino, diferente, entusiasmante."

Guimarães Rosa

"Foi Menotti Del Picchia que tomou a dianteira precisamente em 1922 que iria ser a data oficial da nova escola... Menotti Del Picchia publicou seu romance O Homem e a Morte nesse mesmo ano de 1922 em que Mário de Andrade faz seus primeiros poemas revolucionários contra a versificação parnasiana em voga.
Mas o abridor de caminhos em prosa foi Menotti Del Picchia com sua Flama e Argila de 1920. Podemos acrescentar que a poesia modernista se apresentava muito mais revolucionária que a prosa... O próprio Menotti, em poesia iria, depois de Juca Mulato, aceitar integralmente a imagem libertadora e nela ocupar, no "imaginismo", um lugar próprio ... Salomé é sua obra-prima em romance."

Tristão de Athayde

"Eu só tenho louvores para um escritor perseguido pela celebridade e pelas qualidades naturais que após dezenas de obras faz um honesto esforço para se renovar e consegue se realizar integralmente como Menotti Del Picchia em Salomé... Sem esquecer o poeta de Juca Mulato, o contista de croquizações fortes e o mais brilhante dos nossos cronistas vivos, considero Salomé o melhor, o mais completo dos livros de grande escritor, sua maior contribuição para a novelística nacional."

Mário de Andrade

"Creio que um escritor não pode desejar maior compensação e melhor alegria do que chegar a ser tão amado pelo seu povo como acontece com Menotti. Quem não se emocionou com seus poemas, romances, contos e crônicas? ainda mais que a consagração da crítica, que o reconhecimento dos seus confrades, sua glória é esse calor popular, esse amor do povo que cerca sua poesia e sua fugura."

Jorge Amado

"Seu romance Salome´, palpitante de vida, com suas múltiplas personagens, seu entrecruzamento de dramas, seu lirismo, seus três planos de poesia quase superpõem uns aos outros: a poesia da cidade, da fazenda e da floresta selvagem-das pessoas, das almas exaltadas ou abatidas-e, na cúpula, a poesia bíblica,Herodíade, Salomé com seu gosto de sangue-tudo isso forma o mais fascinante romance que continua vivo em nosso espírito após voltada a última página."

Poesias

A PAZ
A alva pomba da paz voou aos céus serenos.
Embaixo homens se agitavam
entre gritos e tiros.
Paquidermes mecânicos
sulcavam fossos
rasgando trincheiras.
Cansada de librar-se nas alturas
a pomba da paz
buscou na terra um pouso
e flechou
num vôo reto
rumo a uma coisa imóvel
hirta e muda no raso campo verde.
E pousou
calma e triste
sobre as mãos cruzadas de um cadáver.
ITAPIRA
Ó noites de luar da minha terra... Agora,
eu me lembro de cor desses ermos lugares...
A alma se me abria à noite cismadora,
voava ébria da luz nos célicos luares...
Que mágico lugar! Voava e eu não sabia...
Não sabia dizer nos seus longos cismares
se era melhor viver no céu, que tudo encerra,
ou se é melhor sonhar no chão da minha terra!...
Sonhar! Sonhar ali... Sob um céu tão puro
como é puro um olhar duma casta criança...
Sonhar! Mas ali só, sob esse céu, sob esse
cristalino luzir de estrelas...
Sobre a terra em que a flor naturalmente cresce,
como era a paixão em duas almas belas...
ITAPIRA 2
Itapira é sempre aquela moça jovial e faceira
que se veste à maneira de princesa,
trescalando a cravo,
alvejando nas rendas de nuvens brancas
dum céu azul,
azul como devera ter sido o olhar de Eva,
se é que nossa primeira mãe foi loura...
O parque está uma delícia...
O éden está aqui.
Se eu fosse sábio,
argumentaria nesse sentido,
para oferecer ao número das verdades positivas mais uma:
" Adão devera ter sido itapirense..."
Hão de me chamar inovador,
taxar-me-ão de fantasista,
porém a beleza natural desta graciosa terra
fez-me cair em pecado,
fazendo-me disputar verdades à própria bíblia...
O VÔO
Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,
desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o
de estrelas.
Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre
para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo
esgota, como um pássaro, as canções que tens
na garganta.
Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e
de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desce que nasceste não és mais que um vôo no tempo.
Rumo do céu?
Que importa a rota.
Voa e canta enquanto resistirem as asas.
PIEDOSA MENTIRA
Ontem na tarde loura e de aquarela,
alguém me perguntou: "Como vai ela?
Como vai teu amor?" - Eu respondi:
" Não sei. Uma mulher passou na minha vida,
mas não lembro... " E, nessa hora comovida,
como nunca lembrava-me de ti!
E menti por pudor... A mágoa que alvoroça
nosso peito é tão santa, tão pura, tão nossa
que se esconde aos demais.
E se uma voz indaga contristada:
" Estás sofrendo?" - "Não, não tenho nada..."
E é quando a gente sofre mais...
POEMAS DO VENTO
Gastar-se no tempo
diluir-se no vento
evolar-se no sonho
deixando
- haverá quem o colha? -
um resíduo...
               Memória.
Levarei por onde ande
uma inquietação mais nada
impulso vital que extingo
dentro de um pouco de lama.
Tal que o vento que baila
fazendo seu corpo efêmero
com a poeira das estradas...
SONETO
Soneto! Mal de ti falem perversos
que eu te amo e te ergo no ar como uma taça.
Canta dentro de ti a ave da graça
na gaiola dos teus quatorze versos.
Quantos sonhos de amor jazem imersos
em ti que és dor, temor, glória e desgraça?
Foste a expressão sentimental da raça
de um povo que viveu fazendo versos.
Teu lirismo é a nostálgica tristeza
dessa saudade atávica e fagueira
que no fundo da raça nos verteu
a primeira guitarra portuguesa
gemendo numa praia brasileira
naquela noite em que o Brasil nasceu...
VELHA CANÇÃO
Não penses que não te espero
na aparente indiferença.
Esta fingida descrença
só disfarça desespero.
Se a falsa máscara fria
pudesse quebrar esta ânsia
saberias que a constância
é meu pão de cada dia.
Um pudor duro e severo
esperar desesperado
é o que nutre este pecado
de querer como te quero.
Destarte - tímido louco -
não ouso sondar tua alma
e nesta insofrida calma
dia a dia morro um pouco.
DESTINO
Amanha eu vou pescar
Há um peixe vitalizado
que a Ritinha vai guisar
na panela de alumínio
que brilha mais que o luar.
Hoje ele esta no seu liquido
e opaco mundo lunar.
Pequena seta de prata
furando a carne do mar.
Qual será ? O bagre flácido
de cabeça triangular?
O lambari que faísca
como uma mola a vibrar?
O feio e molengo polvo
monstruoso, tentacular?
O peixe-espada de níquel,
a viva espada do mar?
JUCA MULATO
Juca Mulato nasceu em Itapira, cidade da zona mojiana do Estado de São Paulo,
em 1917. Seu pai, recém-formado em Direito e fazendeiro nessa cidade, acabara
de publicar na Capital paulista seu poema Moisés. Exercia agora uma vaga
advocacia numa terra quase sem demandas e dirigia o jornal local, Cidade de
Itapira, em cujos prelos imprimiu o primeiro exemplar do seu poema.
Foi no ambiente da fazenda Santa Catarina da Capoeira do Meio e na paz e no
silêncio do parque que se debruça sobre o Cubatão, bairro no qual serpeja o
Rio da Penha, em cujas margens bivacavam ciganos, que a imagem do caboclo
do Mato e sua alma lírica empolgaram o advogado-poeta.
E a Filha da Patroa ?
Essa, ainda hoje, nascerá no coração de cada leitor do poema quando haja
atingido a idade do amor. É uma idéia e um sonho. Continuará a lembrar,
vida afora, a criatura que teria sido o complemento do seu ser, realização
sempre sonhada e impossível de um perfeito amor ideal.
Compõem o poema o Céu e a Terra. Todas as coisas telúricas e celestes,
o chão que abriga o homem e o alimenta e o que há no mistério do azul
quando ele olha para as estrelas. Ali descobre uma nova e mágica dimensão
do universo: os animais, como o prudente e confidente Pigarço e os lerdos
bois pensativos e decorativos; o galo, clarim do dia que ilumina as coisas
para a vida e oferece as maravilhas do mundo ao homem que acorda.
A fala do "Juca" é coloquial e divina. Sai da boca do homem e vem da conexão
mágica que ele tem com as coisas. É que o universo é um eterno diálogo de
vozes mudas. Cabe-lhe comunicá-las às demais criaturas. Ele é o intérprete da formidável comunhão espiritual que nos envolve numa harmoniosa coesão de
vivências e mistérios regida pela fatalidade dessa divina força que é o amor
("...Che muove il sole e l`altre stelle...")
Germinal
Nuvens voam pelo ar como bandos de garças,
Artista boêmio, o sol, mescla na cordilheira
pinceladas esparsas
de ouro fosco. Num mastro, apruma-se a bandeira
de São João, desfraldando o seu alvo losango.
Juca Mulato cisma. A sonolência vence-o
Vem, na tarde que expira e na voz de um curiango,
o narcótico do ar parado, esse veneno
que há no ventre da treva e na alma do silêncio.
Um sorriso ilumina o seu rosto moreno.
No piquete relincha um poldro; um galo álacre
tatala a asa triunfal, ergue a crista de lacre,
clarina a recolher entre varas de cerdos e
mexem-se ruivos bois processionais e lerdos
e, num magote escuro, a manada se abisma na treva.
Anoiteceu.
Juca Mulato cisma.
Como se sente bem recostado no chão!
Ele é como uma pedra, é como a correnteza,
uma coisa qualquer dentro da natureza,
amalgamada ao mesmo anseio, ao mesmo amplexo,
a esse desejo de viver grande e complexo
que tudo abarca numa força de coesão.
Compreende em tudo ambições novas e felizes,
tem desejo até de rebrotar raízes, deitar ramas pelo ar,
sorver, junto da planta, e sobre a mesma leiva,
o mesmo anseio de subir, a mesma seiva,
romper em brotos, florescer, frutificar!
"Que delícia viver! Sentir entre os protervos
renovos se escoar uma seiva alma viva
na tenra carne a remoçar o corpo moço..."
E um prazer bestial lhe encrespa a carne e os nervos;
afla a narina; o peito arqueja; uma lasciva
onda de sangue lhe incha as veias do pescoço...
Ei-lo, supino e só, na noite vasta. Um cheiro
acre de feno lhe entorpece o corpo langue
e, no torso trigueiro,
enroscam seus anéis serpentes de desejos
e um pubescente ansiar de abraços e de beijos
incendeia-lhe a pele e estua-lhe no sangue.
Juca Mulato cisma.
Escuta a voz em couro
dos batráquios, no açude, os gritos lancinantes
do eterno amor dos charcos.
É ágil como um poldro e forte como um touro;
no equilíbrio viril dos seus membros possantes
há audácias de coluna e elegância dos barcos.
O crescente, recurvo, a treva em brilho frange
e, na carne da noite, imerge-se e se abisma
como num peito etíope a ponta de um alfanje.
Juca Mulato cisma...
A natureza cisma.
Aflora-lhe no imo um sonho que braceja;
estira o braço, enrija os músculos, boceja,
supino fita o céu e diz em voz submissa:
" Que tens, Juca Mulato ?..." e, rebolcado na erva,
sentindo esse cansaço irritante que o enerva
deixa-se, mudo e só, quebrado de preguiça.
Cansado ele ? E por quê ? Não fora essa jornada
a mesma luta, palmo a palmo, com a enxada
a suster no café as invasões da aninga ?
E, como de costume, um cálice de pinga,
um cigarro de palha, uma jantinha à toa,
um olhar dirigido à filha da patroa ?
Juca Mulato pensa: a vida era-lhe um nada...
Uns alqueires de chão, o cabo de uma enxada,
um cavalo pigarço, uma pinga da boa,
o cafezal verdoengo, o sol quente e inclemente...
Nessa noite, porém, parece-lhe mais quente
o olhar indiferente
da filha da patroa...
"Vamos, Juca Mulato, estás doido ?
Entretanto, tem a noite lunar arrepios de susto,
parece respirar a fronde de um arbusto.
O ar é como um bafo, a água corrente, um pranto.
Tudo cria uma vida espiritual violenta.
O ar morno lhe fala, o aroma suave o tenta...
" Que diabo !" Volve aos céus as pupilas, à toa,
e vê, na lua, o olhar da filha da patroa...
Olha a mata: lá está! O horizonte lho esboça,
pressente-o em cada moita, enxerga-o em cada poça
e ele vibra, ele sonha e ele anseia, impotente,
esse olhar que passou, longínquo e indiferente!
Juca Mulato cisma. Olha a lua e estremece.
Dentro dele um desejo abre-se em flor e cresce
e ele pensa, ao sentir esses sonhos ignotos,
que a alma é como uma planta, os sonhos como os brotos,
vão rebentando nela e se abrindo em floradas...
Franjam de ouro, o ocidente, as chamas das queimadas,
Mal se pode conter de inquieto e satisfeito.
Advinha que tem qualquer coisa no peito
e às promessas do amor a alma escancara ansiado
como os áureos portais de um palácio encantado!...
Mas a mágoa que ronda a alegria de perto
entra no coração sempre que o encontra aberto...
Juca Mulato sofre... Esse olhar calmo e doce
fulgiu-lhe como a luz, como a luz apagou-se.
Feliz até então, tinha a alma adormecida....
Esse olhar que o fitou, o acordou para a vida!
A luz que nele viu deu-lhe a dor que agora o assombra,
como o sol que traz a luz e, depois, deixa a sombra...
E, na noite estival, arrepiadas, as plantas
tinham na negra fronde, umas roucas gargantas
bradando, sob o luar opalino, de chofre:
" Sofre, Juca Mulato, é tua sina, sofre...
Fechar ao mal de amor nossa alma adormecida
é dormir sem sonhar, é viver sem ter vida...
Ter, a um sonho de amor, o coração sujeito
é o mesmo que cravar uma faca no peito.
Esta vida é um punhal com dois gumes fatais:
não amar é sofrer; amar é sofrer mais"!
E, despertando à Vida esse caboclo rude,
alma cheia de abrolhos,
notou, na imensa dor de quem se desilude
que, desse olhar que amou, fugitivo e sereno,
só lhe restara no lábio um travo de veneno,
uma chaga no peito e lágrimas nos olhos!
A Serenata
Canta, Juca Mulato...
Ele pega na viola:
seu dedo nervoso os machetes esfrola.
Solta um gemido o aço vibrado
como um grito de dor de um peito esfaqueado.
É tão suave a canção, tão dolente e tão langue
que cada nota lembra uma gota de sangue
a fluir e a pingar dos lábios de uma chaga.
É noite. A brisa sopra uma carícia vaga.
A turba espera. O terreiro tem brilhos
quando, de chapa, a lua esplende nos ladrilhos
e, sentindo a paixão estuar-lhe a garganta,
Juca Mulato canta:
"Veio coleante, essa mágoa
arrastas triste e submisso;
também choro, veio dágua,
sem que ninguém dê por isso...
Saltas nos seixos de chofre.
Choras. No mundo inclemente,
só não chora quem não sofre
só não sofre quem não sente...
Procuras dentre os abrolhos
ver o céu que astros povoaram.
Eu também procuro uns olhos
que nunca me procuraram...
Os céus não vêem tua mágoa,
nem estas ela advinha...
Veio d’água, veio d'água,
Tua sorte é igual à minha.
Ora em bolhas vãs tu medras,
eu em sonhos bem mesquinhos,
Teu leito é cheio de pedras,
minha alma é cheia de espinhos...
Se uma rama se desfolha
sobre teu dorso e resvala,
corres doido atrás da folha
sem poder nunca alcançá-la.
Às vezes, também, risonho,
um sonho minh’alma junca,
Corro doido atrás do sonho
Sem poder tocá-lo nunca.
Ventura... doida corrida
de uma folha sobre um veio.
Folha... Esperança perdida
de um bem que nunca me veio.
Assim vou, sangrando mágoa
e doido, para onde for
veio d’água, veio d’água
corro atrás da minha dor!"
Alma Alheia
Que tens, Juca Mulato ?
Uma tristeza mansa
embaça-lhe o fulgor dos olhos de criança.
Ele é outro... Um langor anda a abrasar-lhe a pele.
Não sabe definir o que há de novo nele.
Fuma e segue pelo ar uma espiral que esvoaça,
pensa que seu destino é igual a essa fumaça...
"A vida é mesmo assim..." ele cisma tristonho.
"Sai do fogo da dor a fumaça do sonho"...
Da cocheira, um nitrir, de intervalo a intervalo,
vibra no ar... É o pigarço. Esse pobre cavalo
anda esquecido e há muito que, sozinho,
sente a falta que faz o calor de um carinho.
Juca Mulato todo o dia vinha vê-lo...
Afagava-lhe o dorso, acamava-lhe o pelo,
e ele, baixando, quieto, as pálpebras vermelhas,
nitrindo e resfolgando, espetava as orelhas...
Juca Mulato, então, numa voz doce e calma,
dizia-lhe baixinho o que ele tinha n’alma.
Coisa de pouca monta: umas fanfarronadas,
uns receios pueris, façanhas de caçadas,
desafios na viola em noites de luar;
coisas que tinha pejo até de lhe contar,
que sussurrava a custo, onde, por entre os dentes,
a gente adivinhava umas frases ardentes:
bocas mordendo um seio em que os bicos quentinhos
tinham a cor da rosa e a ponta dos espinhos...
Ele ria e a risada espoucava-lhe aos pinchos
e o pigarço sisudo explodia em relinchos
que diriam, talvez, traduzido em frases:
"Toma tento, Mulato! Olha bem o que fazes..."
Juca afagando-o, então, murmurava contente:
"Pigarço, você tem uma alma como a gente!"
Hoje, anda abandonado e pesa-lhe o abandono.
Há no seu manso olhar saudades de seu dono.
Quem não vê nesse olhar úmido e cor de enxofre
que esse cavalo sofre ?
Vê uma ave voar na tarde calma e suave,
vem-lhe o desejo absurdo e doido de ser ave.
Quando junto a uma fonte acaso se debruça,
se a corrente soluça, ele também soluça...
Depois, envergonhado, encolhe-se, procura
no seu imo o porquê dessa vaga ternura.
Até vendo uma flor, comove-se, suspira...
"Juca: toma cuidado... Estás ficando gira...
Deixa de te arrastar, como um doido qualquer,
atrás da tentação de uns olhos de mulher!"
E resolve, consigo, ir altivo e insolente,
fingir que não padece e mostrar que não sente,
montar o seu pigarço, atacar a restinga
às foiçadas, beber um cálice de pinga
na venda do caminho e, entre parvos caipiras,
de mistura, contar três ou quatro mentiras
onde lampeja a faca, onde, aos uivos e aos brados
põe em fuga, triunfante, um bando de soldados!
Revive a ilusão! Ele é outro! Salvou-se!
Insidioso, de novo, um olhar meigo e doce
o alucina, o subjuga, o domina, o amolece...
E nem sabe porque humilhado obedece
à sugestão da luz que cintila naquele
lânguido e triste olhar que nunca olhou para ele.
Fascinação
Tudo ama!
As estrelas no azul, os insetos na lama,
a luz, a treva, o céu, a terra, tudo,
num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo,
tudo ama! tudo ama!
Há amor na alucinada
fascinação do abismo,
amor paradoxal, humano e forte,
que se traduz nas febres do sadismo,
nessa atração perpétua para o Nada,
nessa corrida doida para a Morte.
Por isso, quando as lianas
em lascívias florais cercam de abraços
o tronco hirsuto e grosso,
têm, no amplexo mortal, crueldades humanas.
Há no erótico ardor de enlaçá-lo, abraçá-lo,
a assassina violência de dois braços
crispados num pescoço
atenazando-o para estrangulá-lo!
É que o amor quer a morte. Num momento
resume a vida, os loucos entusiasmos
dos supremos espasmos...
Nesse furor que o invade,
tem a volúpia da ferocidade,
tem o delírio do aniquilamento!
É por isso que vês, por tudo
uma luta de morte, um desespero mudo:
a insídia da raiz que mina a terra e a esgota,
o caule que ergue o fuste, a rama, em sobressalto,
agitando pelo ar a própria dor ignota,
no torturante amor do mais puro e mais alto!
E, na noite estival,
enchendo o Espaço e o Tempo, a Luz e a Treva,
o turbilhão fantástico se eleva
do amor Universal.
Tudo ama!
As estrelas no azul, os insetos na lama,
a luz, a treva, o céu, a terra, tudo,
num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo,
tudo ama! Tudo ama!...
Juca Mulato freme. Imerge os olhos entre
as estrelas curiosas.
Não sabe que anda o amor nos espaços profundos
a fecundar o ventre
das próprias nebulosas
na eterna gestação de novos mundos...
Ele é a matriz da vida: multiplica
seres e coisas, numa força eterna,
cria o verme, animais que andam de rastros.
Mata e ressurge, estiola e frutifica,
e, pelo espaço rútilo, governa
a prodigiosa rotação dos astros!
E a vertigem do amor, fascinadora,
tudo arrasta, fantástica, nos braços
e a terra que palpita, canta e chora,
ora imersa na treva ora imersa na aurora,
leva através do Tempo e dos Espaços...
Acendendo no olhar um lampejo divino,
Juca Mulato cede à vertigem que o enlaça
e brada num transporte:
"Arrasta-me também, no turbilhão que passa!
Leva-me ao teu destino,
Amor que vens para a Vida e que vais para a Morte!"
Lamentação
"Amor?
Receios, desejos,
promessas de paraísos,
depois sonhos, depois risos,
depois beijos!
Depois...
E depois, amada?
Depois dores sem remédio,
depois pranto, depois tédio,
depois... nada!"
"Também como esse bosque eu tive outrora
na alma um bosque cerrado de emoções.
As palmeiras das minhas ilusões
iam levando o fuste espaço afora.
Floriam sonhos; era uma pletora
de crenças, de desejos, de ambições...
Não havia por todos os sertões
mais luxuriante e mais violenta flora.
Ai! Bosque real, é o tempo das queimadas!...
É agosto, é agosto! O fogo arde o que existe
em turbilhões sinistros e medonhos.
Ai de nós!... Somos almas desgraçadas,
pois na luz de um olhar lânguido e triste
também ardeu o bosque dos meus sonhos..."
"Água cantante, soluçante, esse gemente
marulho triste, quantas tristes cismas trás...
E fica incerta, ao ouvir-te a voz, a dor da gente,
se vais cantando por ansiar o que há na frente
ou soluçando pelo que deixaste atrás...
Água cantante, água estuante, é singular
a semelhança em que te iguala à minha sorte:
vais para a frente e nunca mais hás de voltar,
vens da montanha e vais correndo para o mar,
venho da vida e vou correndo para a morte.
Água cantante, ai, como tu, esta alma embrenho
nas incertezas de caminhos que não sei...
E, na inconstância em que me agito, só obtenho
essa ânsia imensa de deixar o que já tenho,
depois a dor de não ter mais o que deixei!"
Tenho uma santa em casa; o seu olhar encanta.
O olhar dela é, porém, igualzinho ao da santa.
Quando rezo, nem sei, é como o olhar da corça,
tem, na própria fraqueza, a sua própria força.
Quando o fito minha alma enche-se da incerteza
que há na canoa sem dono á flor da correnteza.
Ele é tal qual o sol, indiferente e mudo,
sem saber quem aclara anda aclarando tudo...
Mas no olhar que o fitou brilha,
constantemente,
um reflexo de luz ambicionada e ausente.
Eu nunca vi o mar, mas vendo esse olhar penso
num barco que se afasta onde se agita um lenço...
Ou no doido terror que, em meio de procelas,
há num casco sem leme ou num barco sem velas...
Creio ver o meu vulto em teus olhos, tão vago
como as sombras que espelham a água morta
de um lago.
Eu bem sei que, tal qual na líquida planície,
o meu vulto não vai além da superfície.
Fica à tona, a boiar nessa pupila absorta
como na água parada alguma folha morta..."
"Pigarço: a dor me aquebranta...
Quando lembro o olhar que adoro
e que nunca esquecerei,
ah! Sinto um nó na garganta
e choro, pigarço, choro,
eu que até chorar não sei...
Quando, a trote, ela nos via,
debruçada na janela,
nós levávamos, após,
com o pó que do chão se erguia
o nosso olhar cheio dela
e o dela cheio de nós...
Então, pouco me importava
que seu olhar nos seguisse...
Galopava-se a valer...
Quando esse olhar eu olhava
era como se não o visse
tanto o olhava sem ver!
Hoje pago essa ousadia...
Ela os olhos de mi tolhe.
Queixar-me disso por que ?
Antes era eu que não o via,
agora, por mais que me olhe,
é ela que não me vê.
Sou um caboclo do mato
que ronda a luz de uma estrela...
Já viste uma coisa assim?
E o pobre Juca Mulato
morrerá por causa dela
e tu, por causa de mim...
Eu da luz desse olhar garço,
tu da dor que te machuca,
morreremos e, depois,
eu fico sem meu pigarço,
meu pigarço sem seu Juca e o olhar dela... sem nós dois!"
Presságios
Juca Mulato sofre. Em cismas se aquebranta.
Uma viola geme, uma voz triste canta:
"Antes de amar eu dizia:
para cortar na raiz
esta constante agonia
preciso amar algum dia,
amando serei feliz".
"Amei... desventura minha!
Quis curar-me e piorei.
O amor só mágoas continha
e aos tormentos que já tinha,
novos tormentos juntei".
A cantiga, a gemer, nos ecos agoniza.
A vaga sugestão dessa angústia imprecisa
contamina-lhe a dor que o tortura sem pausa.
Juca sofre... Por que? Não advinha a causa.
Só sabe que, em seu peito, o olhar amado e langue,
deixa um rastro de luz como um rastro de sangue...
Tornou-o, pouco a pouco, a imensa dor que o oprime,
pálido como a cera e magro como um vime.
Tem olheiras cercando os grandes olhos lassos
cor do manto que traz Nosso Senhor dos Passos
quando carrega a cruz na procissão das Dores
no mais tristonho andor de todos os andores...
Mas por que sofre assim? Talvez mesmo ande nisso
artimanhas do Demo e coisas de feitiço...
Precisa, sem demora, ir uma sexta-feira,
à tapera do Roque, abrir sua alma inteira,
contar-lhe o mal que sofre e do peito arrancar
essa mágoa, essa luz, esse olhar!
A Mandinga
Juca Mulato apeia.
É macabro o pardieiro.
Junto à porta cochila o negro feiticeiro.
A pele molambenta o esqueleto disfarça.
Há uma faísca má nessa pupila garça,
quieta, dormente, como as águas estagnadas.
Fuma: a fumaça o envolve em curvas baforadas.
Cuspinha; coça a perna onde a sarna esfarinha
a pele; pachorrento ainda uma vez cuspinha.
Com o seu sinistro olhar o feiticeiro mede-o.
- Olha, Roque, você me vai dar um remédio.
Eu quero me curar do mal que me atormenta.
- Tenho ramos de arruda, urtigas, água benta,
uma infusão que cura a espinhela e a maleita,
figas para evitar tudo que é coisa feita...
Com uma agulha e um cabelo, enrolado a capricho,
à mulher sem amor faço criar rabicho.
Olho um rasto, depois de rezar um bocado
vou direitinho atrás do cavalo roubado.
Com umas ervas que sei, eu faço, de repente,
do caiçara mais mole, um caboclo valente!
Dize, Juca Mulato, o mal que te tortura.
- Roque, eu mesmo não sei de este mal tem cura...
- Sei rezas com que venço a qualquer mau olhado,
breves para deixar todo o corpo fechado.
Não há faca que o vare e nem ponta de espinho:
fica o corpo tal qual o corpo do Dioguinho...
Mas de onde vem o mal que tanto de abateu?
- Ele vem de um olhar que nunca será meu...
Como está para o sol a luz morta da estrela
a luz do próprio sol está para o olhar dela...
Parece o seu fulgor quando o fito direito,
uma faca que alguém enterra no meu peito,
veneno que se bebe em rútilos cristais e,
sabendo que mata, eu quero beber mais...
- Eu já compreendo o mal que teu peito povoa.
Dize Juca Mulato, de quem é esse olhar?
- Da filha da patroa.
- Juca Mulato! Esquece o olhar inatingível!
Não há cura, ai de ti, para o amor impossível.
Arranco a lepra do corpo, extirpo da alma o tédio,
só para o mal de amor nunca encontrei remédio...
Como queres possuir o límpido olhar dela ?
Tu és qual um sapo a querer uma estrela...
A peçonha da cobra eu curo... Quem souber
cure o veneno que há no olhar de uma mulher!
Vencendo o teu amor, tu vences teu tormento.
Isso conseguirás só pelo esquecimento.
Esquecer um amor dói tanto que parece
que a gente vai matando um filho que estremece
ouvindo, com terror, no peito, este estribilho:
"Tu não sabes, cruel, que matas o teu filho?"
E, quando se estrangula, aos seus gemidos loucos,
a gente quer que viva e vai matando aos poucos!
Foge! Arrasta contigo essa tortura imensa
que o remédio é pior do que a própria doença,
pois, para se curar um amor tal qual esse...
- Que me resta fazer ?
- Juca Mulato: esquece!
A Voz das Coisas
E Juca ouviu a voz das coisas. Era um brado:
"Queres tu nos deixar, filho desnaturado?"
E um cedro o escarneceu: "Tu não sabes, perverso,
que foi de um galho meu que fizeram teu berço?
E a torrente que ia rolar no abismo:
"Juca, fui eu quem deu a água para o teu batismo".
Uma estrela a fulgir, disse da etérea altura:
"Fui eu que iluminei a tua choça escura
no dia em que nasceste. Eras franzino e doente.
E teu pai te abraçou chorando de contente...
- Será doutor! - a mãe disse, e teu pai, sensato:
- Nosso filho será um caboclo do mato,
forte como a peroba e livre como o vento! -
Desde então foste nosso e, desde esse momento,
nós te amamos seguindo o teu incerto trilho
com carinhos de mãe que defende seu filho!"
Juca olhou a floresta: os ramos, nos espaços,
pareciam querer apertá-lo entre os braços!
"Filho da mata, vem! Não fomos nós, ó Juca,
o arco do teu bodoque, as grades da arapuca,
o varejão do barco e essa lenha sequinha
que de noite estalou no fogo da cozinha?
Depois, homem já feito, a tua mão ansiada
não fez, de um galho tosco, um cabo para a enxada?
" "Não vás" - lhe disse o azul - "Os meus astros ideais
num forasteiro céu tu nunca os verás mais.
Hostis, ao teu olhar, estrelas ignoradas
hão de relampejar como pontas de espadas.
Suas irmãs daqui, em vão, ansiosas, logo,
irão te procurar com seus olhos de fogo...
Calcula, agora, a dor destas pobres estrelas
correndo atrás de quem anda fugindo delas..."
Juca olhou para a terra e a terra muda e fria
pela voz do silêncio ela também dizia:
"Juca Mulato, és meu! Não fujas que eu te sigo.
Onde estejam teus pés, eu estarei contigo.
Tudo é nada, ilusão! Por sobre toda a esfera
há uma cova que se abre, há meu ventre que espera.
Nesse ventre há uma noite escura e ilimitada,
e nela o mesmo sono e nele o mesmo nada.
Por isso o que te vale ir, fugitivo e a esmo,
buscar a mesma dor que trazes em ti mesmo ?
Tu queres esquecer? Não fujas ao tormento.
Só por meio da dor se alcança o esquecimento.
Não vás. Aqui serão teus dias mais serenos,
que, na terra natal, a própria dor dói menos...
E fica que é melhor morrer (ai, bem sei eu!)
no pedaço de chão em que a gente nasceu!"
Ressurreição
Coqueiro! Eu te compreendo o sonho inatingível:
queres subir ao céu, mas prende-te a raiz...
O destino que tens de querer o impossível
é igual a este meu de querer ser feliz.
Por mais que bebas a seiva e que as forças recolhas,
que os verdes braços teus ergas aos céus risonhos,
no último esforço vão, caem-te murchas as folhas
e a mim, murchos, os sonhos!
Ai! coqueiro do mato! Ai! coqueiro do mato!
Em vão tentas os céus escalar na investida...
Tua sorte é tal qual a de Juca Mulato...
Ai! tu sempre serás um coqueiro do mato...
Ai! Eu sempre serei infeliz nesta vida!"
"Ser feliz! Ser feliz estava em mim, Senhora...
este sonho que ergui, o poderia por
onde quisesse, longe até da minha dor,
em um lugar qualquer onde a ventura mora;
onde, quando o buscasse, o encontrasse a toda hora,
tivesse-o em minhas mãos... Mas, louco sonhador,
eu coloquei muito alto o meu sonho de amor...
Guardei-o em vosso olhar e me arrependo agora.
O homem foi sempre assim... Em sua ingenuidade
teme levar consigo o próprio sonho, a esmo,
e oculta-o sem saber se depois o achará...
E quando vai buscar sua felicidade,
ele, que poderia encontrá-la em si mesmo,
escondeu-a tão bem que nem sabe onde está!"
E Mulato parou.
Do alto daquela serra,
cismando, o seu olhar era vago e tristonho:
"Se minha alma surgiu para a glória do sonho,
o meu braço nasceu para a faina da terra."
Reviu o cafezal, as plantas alinhadas,
todo o heróico labor que se agita na empreita,
palpitou na esperança imensa das floradas,
pressentiu a fartura enorme da colheita...
Consolou-se depois: "O Senhor jamais erra...
Vai! Esquece a emoção que na alma tumultua.
Juca Mulato volta outra vez para a terra,
procura o teu amor numa alma irmã da tua.
Esquece calmo e forte. O destino que impera
um recíproco amor às almas todas deu.
Em vez de desejar o olhar que te exaspera,
procura esse outro olhar que te espreita e te espera,
que há, por certo, um olhar que espera pelo teu..."
MÁSCARAS
PERSONAGENS:
Arlequim : Um desejo
Pierrot : Um Sonho
Colombina: A Mulher
Em qualquer terra em que os homens amem.
Em qualquer tempo onde os homens sonhem.
Na vida.
BEIJO DE ARLEQUIM
I
O crescente cintila como uma cimitarra. Lírios longos, grandes mãos
brancas estendidas para o luar, bracejam nas pontas das hastes. Uma
balaustrada. Uma bandurra. Um Arlequim. Um Pierrot E, sobre as
máscaras e os lírios, a volúpia da noite, cheia de arrepios e de aromas.
ARLEQUIM diz:
Foi assim: deslumbrava a fidalga beleza da turba nos salões da Senhora
Duquesa.
Um cravo, em tom menor, numa voz quase humana, tecia o madrigal de
uma antiga pavana. Eu descera ao jardim. Cheirava a heliotrópio e vi,
como quem vê num vago sonho de ópio, uma loura mulher...
PIERROT
Loura?
ARLEQUIM
Como as espigas...
Como os raios de sol e as moedas antigas...Notei-lhe, sob o luar, a cabeleira
crespa, anca em forma de lira e a cintura de vespa, um cravo no listão que o
seio lhe bifurca, pezinhos de mousmé, olhos grandes, de turca... A boca, onde
o sorriso era como uma abelha, recendia tal qual uma rosa vermelha.
PIERROT
Falaste-lhe?
ARLEQUIM
Falei...
PIERROT
E a voz?
ARLEQUIM
Vaga e fugace.
Tinha a voz de uma flor, se acaso a flor falasse...
PIERROT
E depois?
ARLEQUIM
Eu fiquei, sob a noite estrelada, decidido a ousar tudo e não ousando
nada...
Vinha dela, pelo ar, espiritualizado numa onda volúpia, um cheiro de
pecado...
Tinha a fascinação satânica, envolvente, que tem por um batráquio o
olhar duma serpente... e fiquei, mudo e só, deslumbrado e tristonho,
sentindo que era real o que eu julgava um sonho! Em redor o jardim
recendia.
Umas poucas
tulipas cor de sangue, abertas como bocas, pela voz do perfume
insinuavam perfídias...
Tremia de pudor a carne das orquídeas... Os lírios senhoreais, esbeltos
como galgos, abriram para o céu cinco dedos fidalgos fugindo à mão flora
l do cálix longo e fino.
Um repuxo cantava assim como um violino e, orquestrando pelo ar as
harmonias rotas, desmanchava-se em sons, ao desfazer-se em gotas!
Entre a noite e a mulher, eu trêmulo hesitava: se a noite seduzia, a
mulher deslumbrava!
Dei uns passos
Ao ruído agitou-se assustada. Viu-me...
PIERROT
E ela que fez?
ARLEQUIM
Deu uma gargalhada.
PIERROT
Por que?
ARLEQUIM
Sei lá! Mulher...Talvez porque ela achasse ridículo Arlequim com ar de
Lovelace...
Aconcheguei-me mais: “Deus a guarde, Senhora!”
- Obrigada. Quem és?
- “Um arlequim que a adora!”
Vinha do seio dela, entre a renda e a miçanga, um cheiro de mulher e um
cheiro de cananga. Eram os olhos seus, sob a fronte alva e breve, como
dois astros de ouro a arder num céu de neve. Mordia, por não rir, o lábio
úmido e langue, vermelho como um corte ainda vertendo sangue...
E falei-lhe de amor...
PIERROT
E ela?
ARLEQUIM
Ficou calada...
Meu amor disse tudo, ela não disse nada, mas ouviu , com prazer, a frase
que renova no amor que é sempre velho, a emoção sempre nova!
PIERROT
Que lhe disseste enfim?
ARLEQUIM
O ardor do meu desejo,
a glória de arrancar dos seus lábios um beijo, a volúpia infernal dos seus
olhos devassos, o prazer de a estreitar , nervoso, nos meus braços, de
sentir a lascívia heril dos seus meneios, esmagar no meu peito a carne
dos seus seios!
PIERROT, assustado:
Tu ousaste demais...
ARLEQUIM, cínico:
Ingênuo! A mulher bela
adora quem lhe diz tudo o que é lindo nela. Ousa tudo, porque todo o
homem enamorado se arrepende, afinal, de não ter tudo ousado.
PIERROT
E ela?
ARLEQUIM
Vinha pelo ar, dos zéfiros no adejo, um perfume de amor lascivo como
um beijo, como se o mundo em flor vibrasse, quente e vivo, no erotismo
triunfal de um amor coletivo!
PIERROT, fremindo:
E ela?
ARLEQUIM
Ansiando, ouviu toda essa paixão louca, levantou-se...
PIERROT
Depois?
ARLEQUIM , triunfante:
Deu-me um beijo na boca!
Um silêncio cheio de frêmito. Os lírios tremem. Pierrot
olha o crescente. Arlequim dá um passo, vê a brandura,
toma-a entre as mãos nervosas e magras e tange, distraído,
as cordas que gemem.
ARLEQUIM
Linda viola.
PIERROT, alheado:
Bom som...
ARLEQUIM
Que musicais surpresas não encerra a mudez
destas cordas retesas...
Confidencial a Pierrot:
Olha: penso, Pierrot, que não existe em suma, entre a viola e a mulher,
diferença nenhuma. Questão de dedilhar, com certa audácia e calma,
numa...estas cordas de aço, e na outra...as cordas d’alma!
Suavemente, exaltando-se:
O beijo da mulher! Ó sinfonia louca da sonata que o amor improvisa na
boca... No contado do lábio, onde a emoção acorda, sentir outro vibrar,
como vibra uma corda... À vaga orquestração da frase que sussurra ver
um corpo fremir tal qual uma bandurra...Desfalecer ouvindo a música
que canta no gemido de amor que morre na garganta...Colar o lábio
ardente à flor de um seio lindo, ir aos poucos subindo...ir aos poucos
subindo...até alcançar a boca e escutar, num arquejo, o universo parar
na síncope de um beijo!
....................................................................................................................
Eis toda a arte de amar! Eis, Pierrot fantasista, a suprema criação da
minha alma de artista. Compreendes?
PIERROT, ansiado:
E a mulher?
ARLEQUIM, lugubremente:
A mulher? É verdade...
Levou naquele beijo a minha mocidade.
PIERROT
E agora? Onde ela está?
ARLEQUIM, ironicamente místico:
No meu lábio, no ardor desse beijo, que é todo um romance de amor!
Seduzido pela angústia da saudade:
No temor de pedi-lo e na glória de tê-lo...
No gozo de prová-lo e na dor de perdê-lo...
No contato desfeito e no rumor já mudo...
No prazer que passou...Nesse nada que é tudo:
O passado!... a lembrança... a saudade... o desejo...
Balbuciando:
Um jardim... Um repuxo...Uma mulher... Um beijo....
(Longo silêncio cheio de evocação e de cismas).
PIERROT, ingenuamente:
É audaciosa demais a tua história...
ARLEQUIM, ríspido:
Enfim,
um Arlequim, Pierrot, é sempre um Arlequim. Toda história de amor só
presta se tiver, como ponto final, um beijo de mulher!
O SONHO DE PIERROT
II
PIERROT
Eu também, Arlequim, nesta vida ilusória, como todos Pierrots, eu
tenho uma história, vaga, talvez banal, mas triste como um cântico...
ARLEQUIM, sarcástico:
Não compreendo um Pierrot que não seja romântico, branco como o
marfim, magro como um caniço, enchendo o mundo de ais, sem nunca
passar disso.
PIERROT
Debochado Arlequim!
ARLEQUIM
Branco Pierrot tristonho...
PIERROT
Teu amor é lascívia!
ARLEQUIM
E o teu amor é sonho...
PIERROT
É tão doce sonhar!... A vida , nesta terra, vale apenas, talvez, pelo sonho
que encerra. Ver vaga e espiritual, das cismas nos refolhos, toda uma vida
arder na tristeza de uns olhos; não tocar a que se ama e deixar intangida
aquela que resume a nossa própria vida, eis o amor, Arlequim. , misticismo
tristonho, que transforma a mulher na incerteza de um sonho....
ARLEQUIM, escarninho:
Esse amor tão sutil que teus nervos reclama só se aplica aos Pierrots?
PIERROT
Não! A todos os que amam!
Aos que têm esse dom de encontrar a delícia na intenção da carícia e
nunca na carícia...Aos que sabem, como eu, ver que no céu reflete a
curva do crescente, um vulto de Pierrette...
ARLEQUIM, zombeteiro:
Eterno sonhador! Tu crês que vive a esmo tudo aquilo que sai de dentro
de ti mesmo. Vês, se fitas o céus, garota e seminua, Colombina sentada
entre os cornos da lua...Quanta vezes não viste o seu olhar abstrato
nos fosfóreos vitrais das pupilas de um gato?
PIERROT
Essas frases cruéis, que mordem como dentes, só mostram, Arlequim,
que somos diferentes. Mas minha alma, afinal, é compassiva e boa: não
compreendes Pierrot. E Pierrot te perdoa...
ARLEQUIM
Tua história, vai lá! Senta-te nesse banco. Conta-me: “Era uma vez um
Pierrot muito branco...”
A história de um Pierrot sempre nisso consiste... Começa.
PIERROT narrando:
“Era uma vez... um Pierrot... muito triste... “
Uma voz, na distância, corta, argentina, a narração de Pierrot.
A VOZ
Foi um moço audaz, que vejo
no meu sonho claro e doce,
O amor que primeiro amei..
Abraçou-me: deu-me um beijo
e, depois, lento, afastou-se,
e nunca mais o encontrei.
Num ser pálido e doente
resume-se o que consiste
o segundo amor que amei.
Ele olhou-me tristemente...
Eu olhei-o muito triste...
E nunca mais o encontrei!
Esse amor deu-me o desejo
daquele beijo encontrar.
Mas nunca, reunidas, vejo,
a volúpia desse beijo,
e a tristeza desse olhar...
A voz agoniza nos ecos. Pierrot e Arlequim tendem o ouvido procurando
no ar mais uma estrofe.
ARLEQUIM
Essa voz...
PIERROT
Essa voz...
ARLEQUIM
Só de ouvi-la estremeço...
PIERROT
Eu conheço essa voz!
ARLEQUIM
Essa voz eu conheço...
Um sopro de brisa arrepia as plantas.
PIERROT
Escuta...
ARLEQUIM
Escuta...
PIERROT
Ouviste?
ARLEQUIM
Um sussurro...
PIERROT
Um lamento...
ARLEQUIM
Foi o vento talvez.
PIERROT
Sim. Talvez fosse o vento.
ARLEQUIM
Conta a história, Pierrot.
Pierrot continuando:
Numa noite divina
como tu, num jardim, encontrei Colombina. Loira como um trigal e
branca como a lua.
ARLEQUIM
Era loira também?
PIERROT
Tão loira como a tua...
Eu descera ao jardim quebrado de fadiga. Dançavam no salão...
ARLEQUIM, interrompendo:
... uma pavana antiga,
e notaste ao luar a cabeleira crespa...
PIERROT
... a anca em forma de lira...
ARLEQUIM
... e a cintura de vespa!
PIERROT
Mãos mimosas, liriais...
ARLEQUIM
Em minúcias te expandes!
PIERROT
Um pé muito pequeno...
ARLEQUIM
Uns olhos muito grandes!
Uma mulher igual à que encontrei na vida?
PIERROT, ofendido:
Enganas-te, Arlequim, nem mesmo parecida!
Era tal a expressão do seu olhar profundo,
que não pode existir outro igual neste mundo!
Felinamente ardia a íris verdoenga e dúbia,
como o sinistro olhar de uma pantera núbia.
Esses olhos fatais lembravam traiçoeiras
feras, armando ardis nos fojos das olheiras!
Tão vivos que, Arlequim, desvairado, os supus
duas bocas de treva e erguer brados de luz!
Tripudiavam o bem e o mal nos seus refolhos.
ARLEQUIM, cismando:
Essas coisas também ardiam nos seus olhos...
PIERROT
Tive medo, Arlequim! Vendo-os, num paroxismo
eu tinha a sensação de estar sobre um abismo.
Não sei porque o olhar dessa estranha criatura
era cheio de horror...e cheio de doçura!
Eu desejava arder nessas chamas inquietas...
ARLEQUIM
Tendo o fim dos Pierrots?
PIERROT
Tendo o fim dos Poetas!
Aconcheguei-me dela, a alma vibrante louca, o coração batendo...
ARLEQUIM
E beijaste-lhe a boca.
PIERROT, cismarento:
Não...Para que beijar? Para que ver, tristonho, no tédio do meu lábio
o vácuo do meu sonho... Beijo dado, Arlequim, tem amargos ressábios...
Sempre o beijo melhor é o que fica nos lábios,
esse beijo que morre assim como um gemido,
sem ter a sensação brutal de ser colhido...
ARLEQUIM
E que disse a mulher?
PIERROT
Suspirou de desejo...
ARLEQUIM , mordaz:
Preferia, bem vês, que lhe desses um beijo!
PIERROT
Não. Ela olhou-me. Olhei... E vi que, comovida, sentiu que , nesse
olhar, eu punha a minha vida...
Um silêncio cheio de angústias vagas.
Sob o luar claro as almas brancas dos
Lírios evocam fantasmas de emoções
mortas. Os espectros das memórias
parecem recolher, como numa urna invi-
sível, a saudade romântica de Pierrot...
ARLEQUIM, tristonho:
Essa história, Pierrot, é um pouco merencória...
PIERROT
A história desse olhar é toda a minha história.
ARLEQUIM
E não a viste mais?
PIERROT
Nem sei mesmo se existe...
ARLEQUIM, contendo o riso:
É de fazer chorar! Tudo isso é muito triste!
Tomando-o pelo braço, confidencialmente:
Entretanto, ouve aqui, à guisa de consolo:
diante dessa mulher...foste um Pierrot bem tolo!
Aprende, sonhador! Quando surgir o ensejo,
entre um beijo e um olhar, prefere sempre um beijo!
PIERROT, desconsolado:
Lamentas-me Arlequim?
ARLEQUIM
Tu não compreendeste: choro não ter colhido o beijo que perdeste.
III
O AMOR DE COLOMBINA
Uma voz que canta se aproxima.
A VOZ
Esse olhar deu-me o desejo
daquele beijo encontrar,
mas nunca , reunidas, vejo
a volúpia desse beijo
e a tristeza desse olhar!
PIERROT , extasiado:
Escutaste, Arlequim, que cantiga tão bela?
ARLEQUIM
Era dela esta voz?
PIERROT
Esta voz era dela...
Arlequim está imerso na sombra e um raio de luar ilumina
Pierrot. Entra Colombina trazendo uma braçada de flores.
COLOMBINA, vendo Pierrot:
Tu? Que fazes aqui?
PIERROT
Espero-te, divina...A sorte de um Pierrot é esperar Colombina!
COLOMBINA
Pela terra florida, olhos cheios de pranto, eu procurei-te muito...
PIERROT
E eu esperei-te tanto!
COLOMBINA
Onde estavas, Pierrot? Entre as balsas amigas, tendo no peito um
sonho e no lábio cantigas, dizia a cada flor: “Mimosa flor, não viste
um Pierrot muito branco...”
PIERROT
Um Pierrot muito triste...
COLOMBINA
E respondia a flor: “Sei lá... Nestas campinas passam tantos Pierrots
atrás de Colombinas...” E eu seguia e indagava: “Ó regato risonho:
não viste, por acaso, o Pierrot do meu sonho? “ E o regato correndo
e cantando, dizia: “Coro e canto e não vejo” - e cantava e corria... Nos
céus, erguendo o olhar, eu via, esguio e doente, o pálido Pierrot recurvo
do crescente...
Assim te procurei, entre as balsas amigas, tendo no peito um sonho
e no lábio cantigas, só porque, meu amor, uma noite, num banco, eu
encontrara olhar de um triste Pierrot branco.
PIERROT
Não! Não era um olhar! Ardia nessa chama
toda a angústia interior do meu peito que te ama
Nosso corpo é tal qual uma torre fechada
onde sonha , em seu bojo, uma alma encarcerada.
Mas se o corpo é essa torre em carne e sangue erguida,
O olhar é uma janela aberta para a vida,
e, na noite de cisma, enevoada e calma,
na janela do olhar se debruça nossa alma
COLOMBINA, languidamente abraçada a Pierrot:
Olha-me assim, Pierrot... Nada mais belo existe
que um Pierrot muito branco e um olhar muito triste...
Os teus olhos, Pierrot, são lindos como um verso.
Minh’alma é uma criança, e teus olhos um berço
com cadências de vaga e, à luz do teu olhar,
tenho ânsias de dormir, para poder sonhar!
Olha-me assim, Pierrot... Os teus olhos dardejam!
São dois lábios de luz que as pupilas me beijam...
São dois lagos azuis à luz clara do luar...
São dois raios de sol prestes a agonizar...
Olha-me assim Pierrot... Goza a felicidade
de poluir com esse olhar a minha mocidade
aberta para ti como uma grande flor,
meu amor...meu amor...meu amor...
PIERROT
Meu amor!
Colombina e Pierrot abraçam-se ternamente. Há, como
um cicio de beijos, entre os canteiros dos lírios. Arlequim,
vendo-os, sai da treva e, com voz firme, chama.
ARLEQUIM
Colombina!
COLOMBINA, voltando-se assustada:
Quem é?
ARLEQUIM
Sou alguém, cuja sina foi amar, com Pierrot, a mesma
Colombina. Alguém que, num jardim, teve o sublime ensejo de
beijar-te e jamais se esquecer desse beijo!
COLOMBINA, desprendendo-se de Pierrot:
Tu, querido Arlequim!
ARLEQUIM, galanteador:
Arlequim que te adora...Que te buscava há tanto e que te encontra agora.
COLOMBINA
E procurei-te em vão, mas te esperava ainda.
ARLEQUIM a Pierrot:
Ela está mais mulher...
PIERROT num êxtase:
Ai! Ela está mais linda!
ARLEQUIM, enfatuado, a Colombina:
É s linda, meu amor! Nessa formas perpassa
na cadência do Ritmo, a leveza da Graça.
Teus braços musicais, curvos como perfídia,
têm a graça sensual de uma estátua de Fídias.
Não sendo ainda mulher, nem sendo mais criança,
encarnas, grande viva, a Flor de Liz de França...
Sobe da anca uma curva ondulante que chega
a teu corpo plasmar como uma ânfora grega
e é teu vulto triunfal, longo, heráldico, esgalgo,
coleante como um cisne e esbelto como um galgo!
COLOMBINA, fascinada:
Lindo!
ARLEQUIM
E não disse tudo... E não disse do riso
boêmio como ébrio e claro como um guizo.
E ainda não falei dessa voz de sereia
que, quando chora, canta, e quando ri, gorjeia...
Não falei desse olhar cheio de magnetismo,
que fulge como um astro e atrai como um abismo,
e do beijo, que como uma carícia louca...
ainda canta em meu lábio e ainda sinto na boca!
COLOMBINA com um voz sombria de volúpia:
Fala mais, Arlequim! Tua voz quente e langue
tem lascivo sabor de pecado e de sangue.
O venenoso amor que tua boca expele,
põe-me gritos na carne e arrepios na pele!
Fala mais, Arlequim! Quando te escuto, sinto
O desejo explodir das potências do instinto,
O brado da volúpia insopitada, a fúria,
do prazer latejando em uivos de luxúria!
Fala mais, Arlequim! Diz o ardor que enlouquece
a amada que se toca e aos poucos desfalece,
e que, cega de amor, lábio exangue, olhar pasmo,
agoniza num beijo e morre num espasmo.
Fala mais, Arlequim! Do monstruoso transporte
que, resumindo a vida, anseia pela morte,
dessa angústia fatal, que é o supremo prazer
da glória de se amar, para depois morrer!
PIERROT, num soluço:
Ai de mim!...
COLOMBINA, como desperta:
Tu Pierrot!
PIERROT, num fio de voz:
Ai de mim que, tristonho, trazia
à tua vida a oferta do meu sonho...Pouca coisa, porém... Uma alma
ardente e inquieta arrastando na terra um coração de poeta.
Na velha Ásia, a Jesus, em Belém, um Rei Mago, não tendo outro
partiu através de Cartago, atravessando a Síria, o Mar Morto infinito,
a ruiva e adusta Líbia, o mudo e fulvo Egito, as várzeas de Gisej,
o Hebron fragoso e imenso, só para lhe ofertar uns grânulos de
incenso... Também vim, sonhador, pela vida, tristonho, trazer-te
o meu amor no incenso do meu sonho.
COLOMBINA com ternura:
Como te amo, Pierrot...
ARLEQUIM
E a mim, cujo desejo te abriu o coração com a chave do meu beijo?
A tua alma era como a Bela Adormecida: o meu beijo a acordou
para a glória da vida!
CALOMBINA fascinada:
Como te amo, Arlequim!...
PIERROT
desvairado pelo ciúme, apertando-lhe os pulsos,
numa voz estrangulada:
A incerteza que esvoaça desgraça muito mais do que a própria
desgraça. Escolhe entre nós dois... Bendiremos os fados sabendo
o que é feliz, entre dois desgraçados!
ARLEQUIM
Dize: Queres-me bem?
PIERROT:
Fala: gostas de mim?
COLOMBINA, hesitante:
A Pierrot:
Eu amo-te , Pierrot...
A Arlequim:
... Desejo-te, Arlequim...
ARLEQUIM, soturnamente:
A vida é singular! Bem ridícula, em suma... Uma só, ama dois...
e dois amam só uma!..
COLOMBINA , sorrindo e tomando ambos pela mão:
Não! Não me compreendeis... Ouvi, atentos, pois meu amor se
compõe do amor de todos dois... Hesitante, entre vós, o coração balanço:
A Arlequim:
O teu beijo é tão quente...
A Pierrot:
O teu sonho é tão manso...
Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma dando a Arlequim
meu corpo e a Pierrot a minh’alma! Quando tenho Arlequim, quero
Pierrot tristonho, pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu...
outro fala da terra! Eu amo, porque amar é variar, e em verdade
toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem
um ser somente, porque a história do amor pode escrever-se assim:
PIERROT
Um sonho de Pierrot...
ARLEQUIM
E um beijo de Arlequim!
NOITE
As casas fecham as pálpebras das janelas e dormem.
Todos os rumores são postos em surdina,
todas as luzes se apagam.
Há um grande aparato de câmara funerária
na paisagem do mundo.
Os homens ficam rígidos,
tomam a posição horizontal
e ensaiam o próprio cadáver.
Cada leito é a maquete de um túmulo.
Cada sono em ensaio de morte.
No cemitério da treva
tudo morre provisoriamente.
BANZO
E por que deixou na areia do Congo
a aldeia de palmas;
e porque seus ídolos negros
não fazem mais feitiços;
e porque o homem branco o enganou com missangas
e atulhou o porão do navio negreiro
com seu desespero covarde;
e porque não vê mais de ânfora ao ombro
a imagem do congo nas águas do Kuango,
ele fica na porta da senzala
de mão no queixo e cachimbo na boca,
varado de angústia,
olhando o horizonte,
calado, dormente,
pensando,
sofrendo,
chorando.
morrendo. 

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CAPAS DE OBRAS

Obras Publicadas


Poesia e Prosa
Poemas do Vicio e da Virtude, Moisés, Juca Mulato, Máscaras, Angústia
de D. João, Chuva de Pedra, Poemas de Amor, Amor de Dulcinéa,
Poesias, Poemas, República dos Estados, Unidos do Brasil, O Vôo.

Romances
Laís, Tragédia de Zilda, Dente de Ouro, A Tormenta,
O Homem e a Morte, A Filha do Inca, Kalum,
O Mistério do Sertão, Kummunká, Salomé.

Contos e Novelas
A Mulher que Pecou, O Crime Daquela Noite, Toda Nua, A Outra
Perna do Saci, O Despertar de S. Paulo, A Fronteira, Flama e Argila.

Ensaios e Monografias
A Crise da Democracia, Soluções Nacionais, Pelo Divórcio,
A Revolução Paulista Ensaio de Exposição do Pensamento
Bandeirante, Por Amor do Brasil, O Governo Julio Prestes e o
Ensino Primário, O Currupira e o Carão (com Plinio Salgado e
Cassiano Ricardo), O Momento Literário Brasileiro.

Teatro
Jesus - Tragédia sacra em versos. Suprema Conquista.
D. Quixote. O Covarde. O Incubo.

Crônicas
Pão de Moloch, Nariz de Cleópatra, Natal, O Peixe, Villa-Lobos,
Comeram um Homem, O Gato Preto, O Guarda-Chuva, O Bailado
com a Morte, As Sogras.

Literatura Infantil
As Viagens de João Peralta e Pé de Moléque.
Pé de Moléque e João Peralta no País das Formigas.

Os ultimos vôos
O Momento, Cromo, Noite, Velha Canção, Prostituta, Canção de
D. João Tenório, O Aranhol, A Paz, Destino, Cantiga do Sapateiro,
Uma História, 25 Anos, Lola, Poema do Vento,Carolina, Os mortos,
Jardim Tropical, Noturno, Bairro da Luz, Soneto, Piedosa Mentira,
O Beco, Humilde Súplica.

Memórias
A Longa Viagem (1º Etapa), A Longa Viagem (2º Etapa) .

Formulário

FOMULÁRIO DE INFORMAÇÃO

Dezenas de peças históricas relacionadas com a vida e obra de
Menotti Del Picchia estão expostas na "Casa de Menotti Del Picchia"
no Parque Juca Mulato em Itapira - SP: Esculturas, desenhos, pinturas, folhetos, livros, originais, cartas, jornais revistas, documentos, diplomas, condecorações, e o fardão acadêmico.

Dias e horários para visitas: de segunda a sexta das 13h às 17h
Contato do Parque Juca Mulato (19) 3813-1090
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CEP 13970-341

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